terça-feira, 22 de setembro de 2009

O futuro e a vida artificial


A quem o acusava de "brincar de Deus", Craig Venter responde mais uma vez irritado: "Absolutamente não estou brincando". Hoje, esse cientista norte-americano de 64 anos, especialista em DNA mas também em negócios, em tubos de ensaio e patentes, sobrevivente do Vietnã, tornou-se milionário cavalgando a onda da "revolução da genética".

Agora, ele promete que o "nascimento" do primeiro ser vivo montado inteiramente em laboratório (uma bactéria) ocorrerá dentro de um ano. E, naquele momento, com uma criatura projetada à sua vontade de inspiração em mãos, o homem, segundo Venter, terá nas mãos a arma para derrotar a fome, o aquecimento global e a dependência petrolífera.

Neste domingo, Venter ilustrou os seus experimentos com DNA artificial em Veneza, na conferência "The future of science", organizada pelas Fundações Umberto Veronesi, Giorgio Cini e Silvio Tronchetti Provera, que, até esta terça-feira, reúne os cientistas mais importantes do mundo em torno ao tema "A revolução do DNA". "Até ontem, nos esforçávamos para ler o genoma. Hoje, aprendemos até a escrevê-lo", afirma Venter.

A reportagem é de Elena Dusi, publicada no jornal La Repubblica, 21-09-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Quais criaturas artificiais o senhor pretende criar? E para quê?

São simples bactérias formadas por uma única célula. Inserindo as instruções certas no seu código genético, começaremos a produzir combustíveis limpos até substituir o petróleo como fonte de energia. Poderão sintetizar antibióticos para combater as novas infecções do planeta. Ou ainda eliminar o CO2 em excesso na atmosfera e frear o aquecimento global. Pela primeira vez na história, os limites do homem não serão postos pelos instrumentos que ele tem à disposição, mas só pela sua capacidade de imaginação.

A que ponto o projeto chegou?

Começamos com quatro tubos com os componentes químicos essenciais e, em 15 anos de trabalho, chegamos a construir uma longa cadeia de DNA artificial. O próximo passo, o final, será inserir esse cromossomo em uma bactéria e encontrar o interruptor capaz de "acender" a vida. Quando atingiremos a meta? Eu diria em um ano. Quando soubermos fazer o que quisermos com a célula, não haverá mais desculpas para a falta de água, remédios, recursos energéticos limpos.

O senhor trabalha com financiamentos privados?

Tenho uma colaboração com a British Petroleum: usaremos as nossas células para transformar o carbono em gás natural. Uma outra é com a Exxon Mobil para produzir combustível partindo de algas geneticamente modificadas. Nos EUA, existe uma comunidade de investidores privados que confia naquilo que a ciência faz. Temos uma situação muito diferente da italiana.

Em que sentido?

Os EUA são um país em que boa parte não tem medo da ciência. Certamente, muitos dos nossos estudos apresentam questões éticas, tocam os próprios fundamentos da vida. Mas temos o hábito de enfrentar os medos discutindo, informando, sustentando um debate público antes ainda de começar os experimentos. O mesmo ocorre na Comunidade Europeia, na Grã-Bretanha, mas não na Itália. Essa é a razão pela qual, no resto do mundo, o conhecimento científico está se expandindo de modo exponencial, enquanto no país de vocês ele implode: a Itália tem medo da pesquisa de base, aquela que produz conhecimento. E não se dá conta que pagará as consequências disso, do ponto de vista do desenvolvimento. No país de Galileu, preciso lhes dizer que a leitura do DNA, exatamente como o telescópio, é um instrumento para ver mundos antes invisíveis. Não há sentido em retrair-se, amedrontados.

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